Sociedade voluntária

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

À quadra da solidariedade hipócrita.




A igreja ostentava o peso de quem possui a autoridade de durante dois mil anos explicar ao homem as regras ditas por quem “governa” o universo e o mundo.
A idolatria completava o cenário, criando um ambiente que transpirava teatralmente a representação de um texto gasto.
Os súbditos, como lobos em pele de cordeiro, cumpriam o seu dever, participando no ritual que os voltaria a tornar cristalinos qual a mais pura água das fontes, permitindo assim que retomassem as mesmíssimas atitudes que os levaram a entrar naquele lugar.
As palavras de entoação divina perdiam-se nos espaços em branco deixados pela dúvida e pela incerteza da vida fora daquelas quatro paredes.
O sacerdote esticou a mão, depositando na boca de alguém a moeda de troca para quem purgou naquele instante o fardo da falta de vontade e de humildade para alterar a sua atitude perante a vida.
O santo líquido, modernamente, liberta-nos dos pregos que acumulamos diariamente e que desesperadamente não julgamos nossos, a cruz de Cristo transporta-nos à nossa própria crucificação quotidiana, majorando-nos no final de cada dia a persistente questão da essência da vida.
A emoção, reverberada pelas milenares pedras da sagrada construção, crava na alma e no peito a criogénica suspeita da não inevitabilidade.
Lá fora, ou outros, parte de nós dividida pela matéria, seguem os rituais, determinados por um objectivo que teima muito pouco oferecer.

2 comentários:

  1. Literariamente belo.
    Tenho uma nova religião a propor: vamos fazer da Terra um paraíso; agir para que a vida na Terra seja um paraíso para todos em vez de agirmos para irmos nós para o paraíso quando morrermos.

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  2. É isso mesmo amigo Alf, é isso mesmo.
    E podemos começar com pequenas coisas que dependem apenas de nós, não temos que esperar por mudanças significativas imediatas, pequenas acções no nosso dia a dia.

    Abraço livre.

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