Sociedade voluntária

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O trabalho e a tecnologia.



Está o mais distraído convencido de que é preciso trabalhar mais? Ou existe uma segunda leitura na proposição de tal argumento?
Quando no passado, mesmo recente, á cinquenta anos por exemplo, se discutia o desenvolvimento tecnológico, o grande desenvolvimento tecnológico que o futuro nos traria, um dos benefícios expostos era a visão de que no futuro o homem estaria muito mais liberto do trabalho, consequência da automação da industria, da produção e que a vida das pessoas seria muito mais gratificante ficando responsáveis apenas pela criação de novos sistemas e sua gestão.
Foi uma previsão acertada, chegámos cá, parcialmente, a tecnologia permite hoje alcançar esse objectivo, não tenho dúvida, a tecnologia cumpriu a sua promessa mas nós seres sociais não! No tempo dos satélites, estação espacial internacional, acelerador de partículas, neutrinos e bosões, querem fazer-nos crer que não é possível libertar o homem do trabalho servil e mercantilista e no entanto fomos nós enquanto organização social que não permitimos e continuamos a não permitir que a tecnologia nos liberte.
Paradoxalmente o presente obriga-nos constantemente a trabalhar mais, fazendo-nos crer inevitável tal condição paralela ao estatuto tecnológico.
O erro é tão grande que no momento em que o mundo subdesenvolvido ou em vias de, dispõe finalmente das capacidades tecnológicas que nós usámos e lhes “facultámos” para que possam elevar-se ao nível que o “Ocidente” atingiu, o que fazemos? Em lugar de dar o passo em frente que seria de esperar, ou seja transitar progressivamente de uma sociedade de trabalho humano intensivo próprio das fases industrial e pré-informação, para uma sociedade de trabalho humano participativo, por outras palavras, automatizar, automatizar, automatizar para reduzir a necessidade de intervenção e diminuir a carga horária do trabalho na sociedade, mantendo os níveis de produção suficientes e indicando claramente o sentido a seguir pelo resto do planeta, o caminho escolhido, foi o da regressão, destruir parte do percurso evolutivo já percorrido e harmonizar por padrões de inferioridade.
A tecnologia não nos libertou já, porque não somos apenas trabalhadores, somos um bem, um activo que precisa de estar dependente para poder ser controlado e assim valorizado (obrigado a produzir mais) ou desvalorizado (auferindo menor salário) para valer ainda mais, é esta escravidão dissimulada que pode ser difícil decifrar, e permite um sistema em que meia dúzia domina milhões de pessoas independentemente do nível tecnológico alcançado.
Não é portanto a técnica que nos prende é a doutrina, a política e em última instância os valores morais, a consciência do ser humano.

4 comentários:

  1. Excelente, meu caro. É sem dúvida a moral que está em causa, em primeiro lugar. Do ponto de vista da justiça, seria legitima a politica de taxar o uso de tecnologia por cada posto de trabalho anulado e o valor correspondente reverter para a segurança social revendo-se profundamente esta... Uma das consequências possíveis seria a minimização desta crise. Mas, se tal moral existisse, nem a própria crise existiria. Certo?

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  2. Exatamente. O nosso trabalho e imaginação não estão ao serviço da Sociedade como deviam mas apenas de uns poucos. Há que recolocar o papel da Sociedade no centro do problema.

    Acho que às 21h00 vou lá (Convenção):
    http://auditoriacidada.info/node/1
    O que é a IAC:
    A Iniciativa de Auditoria Cidadã à Divida Pública constitui-se na Convenção de Lisboa, a realizar nos dias 16 e 17 de Dezembro de 2011, no auditório do cinema São Jorge.

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  3. Certíssimo amigo Rogério, certíssimo.


    Abraço livre

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  4. UFO, amigo, partilho, há que colocar o papel da sociedade do topo das decisões na resolução dos problemas.

    Abraço livre

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