Quando nos anos 80 Margaret Thatcher e Ronald Reagan decidiram implementar a teoria neo-liberal no mundo financeiro, partiram do pressuposto que controlando e dominando o sector financeiro por consequência domirariam também o sector económico.
Partindo daqui, abriram portas a que os sectores produtivos da economia real se deslocalizassem para geografias em que a realidade social proporcionasse um maior lucro ás suas empresas e com isso abastecessem os seus mercados com produtos muito mais baratos o que compensaria, em conjunto com a manipulação financeira, o funcionamento da economia e simultaneamente uma expanção das mais-valias das referidas multinacionais.
E assim foi durante algum tempo, o rendimento entretanto adquirido pelas populações permitiu em conjunto com a importação de bens a um preço reduzidissimo e apoiada numa politica expansionista do crédito, alcançar e manter um determinado estatuto de bem estar que alavancou o mercado imobiliário para realidades em que se tornava possivel especular e fazer crescer o seu valor quase infinitamente.
Ora, o sector financeiro vendo em crescente, uma frente de negócio tão próspera, pois realizando milhões de hipotecas tanto residenciais como comerciais e, estando agora liberto de constragimentos de supervisão, criou então mais um instrumento financeiro para realizar ainda mais mais-valias sobre a mesma riqueza da economia real.
Tendo na sua posse milhões de hipotecas, agrupou-as em pacotes e, não sendo este jogo só por si uma criação virtual de riqueza apostou em intensificar a ilusão e aqui entra a vigarice maior, agrupou-as incluindo na sua maior parte, hipotecas com baixa possibilidade de serem cumpridas e classificando-as como produtos financeiros de elevada garantia de retorno.
Embrulhadas bem embrulhadinhas, dissiminaram-nas pelo mundo todo, principalmente pela Europa parceiro privilegiado, bancos, fundos de pensões e investidores privados adquiriram-nos.
Chegada a altura de se fazerem sentir os efeitos mais acentuados das deslocalizações das empresas para a Asia, o desemprego surgiu e alcançou dimensões que ameaçou o cumprimento das responsabilidades relativas ás tais hipotecas fraudulentamente incluidas, iniciando um processo de incumprimento que desencadeou um panico geral sobre a garantia do tal retorno.
Acredita-se que o valor de tal construção financeira tenha um volume de 600 triliões de dolares em contraposição ao valor da produção mundial de riqueza de cerca de 65 triliões, podemos assim verificar a dimensão do reajuste financeiro a efectuar pelas instituições e que reescrever esses activos ao seu valor real
levará a perdas e falências em massa, isto segundo as regras capitalistas vigentes.
Para tentar atenuar o impacto da retracção do dinheiro na economia real e na falência dos bancos, os governos procederam a programas de investimento e também de injecção de dinheiro nos bancos á custa de criação de divida soberana que por sua vez fez disparar os défits.
É esta transferência de prejuizo que agora está a ser colocada aos ombros dos cidadãos para ser paga (no caso Português existem mais umas razões mas não as incluo nesta análise global).
A pressão dos mercados financeiros sobre a divida soberana é uma imposição para que se garanta que o prejuizo é assumido pelos cidadãos.
A maior parte dos prejuizos dos subprime e outros estão ainda nos livros das instituições e jamais poderão ser actualizados sem uma injecção maciça de dinheiro nos bancos, permitindo fazer a compensação, mas correndo o risco de criar superinflação.
A origem de boa parte da problemática que vivemos hoje, partiu da adopção de uma doutina financeira neo-liberal, desregulada, selvagem, com o propósito de manter o domínio mundial através do sistema monetário, o que não quer dizer que não faça parte do esqueleto moribundo do capitalismo, podendo ser esta a sua decomposição final.
A análise deste facto está muito certa. Um facto é porém apenas um sintoma, um resultado de outras coisas. Para partirmos para algo melhor temos de compreender a causa dos problemas, não basta a descrição dos acontecimentos para concluir que tem de se partir para outro sistema; e quem garante que o outro sistema não tem outros problemas ainda piores? O capitalismo não existe por acaso, ele é uma resposta natural das sociedades humanas aos seus problemas. Os sistemas naturais são muito mais inteligentes do que nós individualmente (tenho uns posts sobre a questão da Inteligência, um pouco confusos, mas enfim...) Portanto, substituirmos o capitalismo por um qualquer sistema desenhado por nós só pode dar asneira - o caminho, creio eu, é a sua evolução; se nós soubermos resistir aos problemas, soluções evolutivas serão encontradas.
ResponderEliminarSe calhar sou demasiado utópico, mas cada um tem de seguir o seu pensamento... no fim, os esforços de quem procura um mundo melhor hão-de certamente convergir, quer o caminho seja um ou outro - o que é preciso é não ficar parado.
Abraço
È isso mesmo, as soluções surgem do esgotamento do anterior e necessidade de novo que é reflexo (nem sempre consciente) da acção/percepção colectiva.
ResponderEliminarPoe isso é que hoje mais que nunca estamos todos a intervir com opiniões e participações na tentativa de criar algo melhor (que ainda não sabemos bem como será mas já sentimos a sua necessidade) sentimos ou não?
ResponderEliminarisso mesmo. Claro que há uma minoria que acha que assim é que isto está bem, e quer defender o estado das coisas a todo o custo, por exemplo, mandar uns políticos para a cadeia para salvar o sistema e convencer as pessoas de que assim fica tudo bem. Mas não fica, há algo na raiz que tem de mudar, o problema não se resolve podando umas folhas.
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