Quando se procura explicar às pessoas que a forma como vivemos, o estado da sociedade e das coisas não tinham nem têm que obrigatoriamente ser como são, quando se tenta explicar que o trabalho tal como é exercido hoje na modernidade não tem fundamento teórico nem prático na construção de uma sociedade equilibrada, quando se tenta explicar que a quantidade de trabalho aplicado está desproporcionado em relação à necessidade de produção de bens, que é possível trabalhar menos, manter as necessidades satisfeitas e ganhar enorme qualidade de vida, que é possível participar de livre vontade e de acordo com as satisfações de cada um no preenchimento das necessidades do colectivo e que tal só não acontece, não por incapacidade de meios tecnológicos ou falta de alternativas filosóficas/politicas mas por outras razões que passam por manter as sociedades estratificadas, manter uma emanação de poder verticalizada e permitir a continuidade de uma determinada filosofia politica de dominação, as respostas/perguntas são sempre as mesmas;
- Está louco ou quê e depois quem é que trabalhava?
- Isso é muito bonito mas é em sonhos!
- Ò meu amigo, isso matavam-se todos uns aos outros!
- Isso seria o caos!
É evidente que existe alguma verdade na argumentação, nem todas as pessoas estão preparadas para uma sociedade com tais características, mas o grande erro é, e normalmente as conversas esgotam-se antes da completa explicação do processo, assumir que semelhante transição seria objectivada de um dia para o outro, só esta posição explica que as pessoas tenham grande dificuldade em antever uma outra forma de organização da sociedade muito mais livre, pois o processo mental leva-as a transpor as condições actuais para essa nova realidade sem alterações nucleares da estrutura consciêncial dos seus intervenientes.
O processo de transição para uma sociedade voluntária deverá ser um processo gradual, a questão é iniciá-lo, coisa que não acontece, e poderia ser concretizado de uma forma muito suave, requer “apenas” inteligência e dedicação ao ser humano, principalmente dedicação ao ser humano.
Conforme as grandes elites pensantes, estadistas e estrategas sabem, o método de alteração de valores e princípios nas mentes das massas requer a passagem de no mínimo 2 gerações, a lenta e progressiva absorção de estímulos que 2 gerações mais tarde apresentam o desligamento com valores, ensinamentos e realidades antecessoras.
Vemos esse método claramente expresso no consumismo, em que 20 anos de sussurro ao ouvido, … compra, compra, compra, conduziu á substituição do conceito da aquisição por necessidade pela aquisição “por que quero”.
Vemos também em relação ao valor da liberdade que as novas gerações, generalizadamente procederam a alterações no espectro do conceito, que se por um lado viu alargada a sua amplitude, a sua profundidade não acompanhou, consequência de encorajamentos ao individualismo e não á individualidade.
Assim percebe-se que falar de sociedade voluntária levante imediatamente a antevisão de uma falência automática do funcionamento da mesma pois é observada sob o princípio individualista vigente.
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