Sociedade voluntária

Sociedade voluntária

sábado, 3 de setembro de 2011

Resposta comportamental assimétrica.

Nestes nossos tempos, em que vemos quotidianamente ruir, as estruturas fisícas e mentais que suportam a crença numa relativa confortável sensação de segurança e de projecção no futuro de uma existência com dignidade, assalta-nos a mente a ferverosa energia do medo.
O medo de não encontrar emprego, o medo de perder o emprego, de não conseguir alimentar a família, de não conseguir honrar os compromissos financeiros e outros assumidos, de perder o património conseguido á custa do suor da própria alma, o medo de não encontrar saída, o medo por sentir tanto medo.
Nestes nossos tempos, é primeiro tempo de dizer NÃO!
Não á subjugação das pessoas aos numeros, não á sobrevalorização do dinheiro, não á desigual distribuição dos recursos, não á diferenciação entre as pessoas.
Este NÃO pode ser presencial, nas ruas, mas deve ser também um NÃO
mental, interior, uma reflexão, um reajustar de conceitos e valores julgados perdidos ou ultrapassados.
Nestes nossos tempos, é tempo de voltar, voltar ao que realmente é importante, de deixar o que nos foi vendido como fundamental e nos conduziu até aqui e agora.
É tempo de mudar o medo, de criar raízes á nossa volta, entregar algo ás necessidades dos outros, não olhar a ganhos ou perdas.
É tempo de formular uma resposta que permita construir passo a passo uma auto-organização da sociedade civil, como resposta comportamental assimétrica.
Pretendem "progressivamente", retirar á sociedade as fundações de estabilidade promotoras de um desenvolvimento  além sobrevivência, portanto, porque não repor essas qualidades, via sociedade civil, com outra abordagem, outra forma de pensar a vida.
É tempo de substituir um pai centralizado e distante da realidade por inumeros irmãos sentados no mesmo degrau, pouco a pouco criando uma teia que permita suprimir as necessidades básicas, inicialmente ao nivel local, numa rua, duas, três, uma freguesia.
Conheçamos os nossos vizinhos, ofereçamos a nossa vontade de ajudar, disponibilizemos o nosso conhecimento para suprimir as necessidades dos que estão á nossa volta, sem julgar ou antagonizar porque na realidade muitos ainda hibernam e sabemos que leva tempo a acordar.
Começam já a surgir as plântulas de uma nova sociedade, timidas ainda, só se mostram a quem observa atentamente e com profundidade, talvez seja bom não apressar mas é concerteza fundamental dar a mão, com pequenas acções para quem não está habituado, e dar em vez de vender, e pedir quando precisar em vez de comprar, aos poucos,  devagar, substituindo atitude por atitude,  suprimindo carencias,  metamorfoseando a realidade,  e desligando o conceito de que alguém a quem entregamos a responsabilidade do nosso futuro fará melhor que nós próprios.
E assim, um dia, longinquo, quando os nossos netos sentados ao nosso colo nos perguntarem:
-Porque a vida é tão bela?
Nesse dia poderás responder:- Porque nós, as pessoas, todas, tomámos a vida nas nossas mãos. 

3 comentários:

  1. Caro Horizonte,

    O sonho utópico, sempre foi visto assim: um sonho. Mas do jeito que as coisas vão, teremos que torná-lo uma meta à ser alcançada. Algumas experiências do tipo já ocorrem pelo mundo. A PERMACULTURA já é uma realidade em muitos países, ela tem suas bases no conceito de preservação e no cuidado com a terra, como também, na troca dos excedentes produzidos. O comércio deve inexistir. Creio que esta devesse ser uma visão que a sociedade, como um todo, deveria abraçar. Infelizmente uma ínfima parcela se dá conta do que está se passando. Já se fala na derrocada do capitalismo, ou de uma profunda transformação do regime. Já não é sem tempo, em se tratando de um sistema predador, que trata a natureza como um domínio humano, que dela faz proveito como bem pretendido, cuja existência serve única e exclusivamente à nossa conveniência. Temos que nos aplicar a sermos seus zeladores. É um assunto que geralmente cai no ridículo quando posto em prova em qualquer roda de conversa. Há sempre aqueles, e são muitos, que por não conseguirem imaginar uma sociedade sem consumismo, sem desfiles, sem esnobismo, sem afetação, acharem que a capacidade do capitalismo e seus agentes, suplantará quaisquer dificuldades de percurso. Não se deram conta de que o planeta não suporta nosso padrão de vida, nosso consumismo desenfreado. Talvez uma redentora nanotecnologia venha redimir toda uma virulenta geração, que se acostumou a depredar incentivada pelos médias, fazendo jus ao conceito exposto pelo agente Smith em Matrix. Esta maioria voraz espera por algo que venha nos redimir, e este algo, por conveniência, deverá vir por meio da tecnologia. Até este exato momento, nada temos feito para modificar o panorama e desconstruir a afirmação de Smith.

    Se for possível, por curiosidade, gostaria de saber o motivo do nome do blog ser Horizonte XXI. Tem a haver com a Agenda XXI?

    Abraço,
    Walner.

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  2. Caro Walner
    Para começar agradeço o comentário e a visita.
    Quase todos sabemos que o mundo está assim porque os poderosos querem que se mantenha assim.
    Existem desde alguns anos formas de sustentar a população humana e também outras formas de energia que proporcionariam outro equilibrio do planeta mas o dinheiro e o poder...!!
    Uma das questões que me deixa frustrado é realmente constatar que existem muitas pessoas que não conseguem "visualizar" uma sociedade diferente, em que as pessoas estejam primeiro e que seja uma "economia da felicidade".
    A utopia de hoje é a realidade de amanhã.

    O nome Horizonte XXI baseia-se na perspectiva de uma nova sociedade ainda no sec.XXI, ou seja, a esperança de que durante este século a humanidade contrua uma outra forma de sociedade muito mais equilibrada em todos os sentidos.

    Abraço.

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  3. Horizonte,

    Já houve quem usasse da analogia do cavalo que puxava a carroça de antolhos perseguindo a cenoura na ponta de uma vara. O 'make by yourself', o 'self made man' são parte da cenoura que o sistema pôs na nossa frente. Tá todo mundo correndo atrás da grana e dedicando suas vidas ao deus 'money'. "Aquele sujeito na capa da Forbes conseguiu, você também pode." E manda anestésico na cambada. Religião, carnaval, violência gratuita no noticiário, nos filmes, nas novelas, democracia de cartas marcadas e futebol, muito futebol, que até gosto, mas não há como negar que se trata do mestre do picadeiro no circo armado pelos médias.

    Horizonte, quem tá inserido numa nice, vai querer mudar o que? Tá tudo ótimo: conta bancária alí no vermelho, mas administrada. O carro 0km na garagem com o seguro em dia para não segurar um pepino de 60 prestações de um bem surrupiado. Geladeira cheia, onde as cervejas não podem faltar. Fim-de-semana de carango até Saquarema pra churrascada com a rapeize. "Pô, mudar o quê!? Quê tu tá falando ô Mané!?" E assim, feliz, segue a vida do mutuário da Caixa Econômica Federal.

    Ô Horizonte, rapaz, economia da felicidade? Pra quê? Melhor o Baú da Felicidade, a Loteca, o bingo, a maracutaia, a jogatina em Wall Street...

    Me desculpe, mas ando meio amargo mesmo. Desiludido com todo o castelo de cartas que criamos a nossa volta. Tenho três filhos e não gostaria de vê-los sofrer, mas não consigo ver nada que me dê algum conforto no futuro que se avizinha. E o pior, sinto que estou perdendo a guerra contra os meios de informação e a corporatocracia na formação deles como seres humanos. São filmes imbecilizantes, noticiários imbecilizantes, publicidades imbecilizantes (isso é redundante), animações imbecilizantes, comida imbecilizante. Pouca coisa escapa. Minha luta é diária e por serem meus filhos, tenho que tentar mantê-los despertos, do único modo que posso, na base do papo.

    Até a próxima Horizonte,
    Walner.

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