Sociedade voluntária

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

E da liberdade absoluta da acção não resulta a supressão das necessidades?





Quando poucas, raras vezes a conversa consegue chegar ao ponto em que se manifesta o interesse em aprofundar um pouco mais o assunto - e não se pense que se reflecte apenas nas classes mais baixas, teoricamente menos esclarecidas, pois foi-me recentemente cortada a palavra com a frase: - Ok, vamos lá então descer á terra!
Proferida por pessoa com formação e de boa condição de vida, prova o quão condicionado está o pensamento e a profunda e anti-catalizadora consequência da ausência do sonho como elemento de progresso.
Mas como dizia, nas raras vezes em que se ouve o - então diz-me lá, a expectativa é a de que se explique na frente de uma refeição, em pormenor e detalhe, o universo desde o big bang, intercalado entre garfadas e sorvos de tinto.
Se inicío a coisa de forma mais poética, “tipo” - O homem não é um homem, mas uma larva de homem, o espaço para progressão da explicação fica reduzido á doce e simpática categoria de irrealismo, não pragmático e idealista, se por outro lado apresento a negrura da exploração do homem pelo homem a explicação é cerceada por uma posição de inevitabilidade intrínseca ao sistema, do qual o ser humano dificilmente ultrapassará por condição própria, limitada, é o argumento de – as pessoas são mesmo assim, contrapor que as pessoas são um misto de genética e meio-ambiente e que mesmo a genética é um misto de originalidade e meio-ambiente, assemelha-se a navegar contra uma intempérie dentro de uma banheira.
O princípio é o seguinte:
Imaginemos uma sociedade, um colectivo de indivíduos a quem se permite fazer só o que querem, ninguém será obrigado a despender uma caloria que seja contra a sua vontade, o que resultará de uma construção desta natureza, tenderá para o desequilíbrio e como tal para a ineficiência e rápida auto destruição ou pelo contrário tenderá para a progressiva auto organização e sustentabilidade do colectivo?
Em minha opinião a segunda hipótese é a resposta e porquê? Por duas razões, primeira de ordem pragmática, a necessidade, que estimula o homem a realizar e a procurar realizar mais com menos esforço, será sempre objectivo fazer mais com menos esforço, a segunda de ordem digamos que metafisica, pois o conjunto de acções possíveis de realizar individualmente acrescenta sempre ao colectivo, aliás parece pouco provável que uma acção individual no seio do colectivo não reflita no mesmo, apenas as acções de violência não contribuem directa ou indirectamente para o colectivo, (no sentido da continuidade imediata da progressão, pois até a destruição é elemento organizativo).

Procuro o vosso parecer, o que pensam sobre a questão, a ausência completa de regras conduz ao caos ou à auto organização?

3 comentários:

  1. «a ausência completa de regras conduz ao caos ou à auto organização?»


    Excelente questão.

    Julgo que depende: primeiro, conduzirá ao caos, depois à auto-organização. Num sistema completamente podre é a única solução.

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  2. não consigo entender o que seja a "ausência completa de regras"; desde que não vivamos absolutamente isolados, existem sempre regras de relacionamento.

    A questão pode talvez pôr-se de outra forma, que é a de as regras serem iguais para todos; o que equivale a dizer que todos têm o mesmo poder.

    Mas o que mina a sociedade é o facto de cada um agir em função dos seus interesses pessoais e imediatos; e isso mina a interacção entre as pessoas ou entidades. Por exemplo, se cada um poder fazer o que lhe apetecer... começa logo a agir como predador, não é? Depois os outros tratam de se defender dos predadores...

    Há um princípio de organização que diz que se as pessoas fossem perfeitas (ou seja, colocando o interesse do grupo acima do interesse individual), qualquer organização funcionaria perfeitamente; mas não são e organizar passa por criar estruturas que funcionem com as pessoas tal como elas são.

    complicado isto...

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    Respostas
    1. Percebo o ponto de vista, daí o exercicio, "imagine uma sociedade a quem se permite fazer só o que querem..."

      A questão fulcral é precisamente essa, o pressuposto de que se cada um fizer o que lhe apetecer agirá como predador, vou dar um exemplo:
      Imagine que está na rua e mesmo ao seu lado passa uma pessoa que escorrega e vai cair ao chão junto a si, qual é a sua reacção instintiva? aposto que é deitar a mão para tentar impedir que a pessoa caia, é ou não, é instintivo,ou seja, não são precisas regras para que o individuo reconheça a necessidade de ajudar, o que nos leva a outra questão, até que ponto são as regras impostas que produzem comportamentos e valores distorcidos.

      É matéria para pensar para além daquilo que parece obvio, não?

      Abraço livre.

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