Sociedade voluntária

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sábado, 13 de junho de 2015

Códex Universalis



O humano é um animal frágil, frágil porque distante dos automatismos da natureza, os automatismos naturais são leves em si, são predominantemente instintos de presença e não tanto resposta integrada.
A distância que separa o animal humano e os automatismos da natureza é um vazio de intensidade da ordem primordial, fazemos questão de lhe chamar liberdade e, é precisamente pela capacidade de escolher que se torna imperativo estar ciente, não há escolha sem consciência de si, porque o instinto é fraco e a consciência toma lugar o humano age e, constrói para si uma réplica própria do instinto que lhe falta.
O Homem assume assim a responsabilidade de, por vontade sua, colocar no seu lugar a decisão de voltar.
De certa forma sempre presente no trajecto percorrido permeia uma tentativa de construção artificial dessa ordem primordial, a ordem que garante o pertencimento justo a tudo quanto existe ainda que não consciente, mas agora no Homem fluido, de forma voluntária, intencional, consciente e até esperançosa, desejosa e ambiciosa.

O peso que o Homem transporta é de uma grandeza descomunal, nas suas costas repousam milénios da sua História e com isso o peso dos Deuses; representação do maior, do incógnito universal; a eterna incerteza do propósito e a dúvida individual; a diversidade de unos a sua plasticidade igualitária e simetria diferenciada.
O peso que transporta é provavelmente o da responsabilidade de voltar escolhendo, definindo e memorizando o caminho, levando consigo os marcos identificadores dessa estrada que são as experiencias vividas.
O desafio do Homem é talvez paradoxalmente conduzir o universo de volta a casa, de forma consciente, de forma experienciada, vivida, a genuína transmissão de informação; viver.
Ao viver e saber que vive o Homem recolhe e escolhe a que julga ser a melhor informação a transmitir geneticamente ás gerações seguintes.
A nova geração possui a informação genética das dificuldades e obstáculos da geração anterior e predispõe os genes de resposta a esses obstáculos, isto de forma individual mas também colectiva.
Uma semente contém em si toda a informação para desenvolver uma planta similar á que lhe deu origem, um animal carrega consigo toda a informação necessária para ser o animal que precisa de ser mas também alguma predisposição ao meio envolvente geneticamente transmitida e o Homem nasce com toda a informação para dar continuidade ao fluxo de progressividade dos seus progenitores ao momento da sua concepção.   
A passagem de informação genética permite a evolução/continuidade da vida o mesmo que dizer a evolução/continuidade do universo que, de vida em vidas toma consciência de si próprio.
Pergunto porque o suicídio é socialmente tão mal aceite, tão reprimido e desconsagrado?
Talvez porque de forma generalizada represente a não continuidade.
Existe um código universal e esse está presente em tudo quanto existe, esse código é o único automatismo a que o Homem tem de se submeter, a transmissão/ continuidade da informação, porque a informação não pode parar, a vida não pode parar, o universo não pode parar.
E se o Homem não o fizer algum outro ser tomará o seu lugar no aparente infinito caminho de regresso.
O universo tem de regressar e porque partiu automatizado tem de regressar livre.

Ou não, podemos sempre argumentar que uma borboleta, um ser que vive quase em perfeita sintonia com o meio sem necessidade de o alterar é um estado muito mais evoluído do conceito de vida.