Sociedade voluntária

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domingo, 23 de dezembro de 2012

Nano-conto de Natal


O seu ser repousava lúgubre, o corpo cansado acompanhava a sua mente naquela que era a sua percepção de uma vida, levando a que, consciente da brevidade do último suspiro, da última inalação, o único arrependimento que sentia era de não ter feito.
Por breves segundos, percebeu com clareza, com aquela clareza que acompanha a nossa verdade, que tinha perdido, tempo, sim tempo, essa contagem da combustão da vida, com coisas insignificantes, pormenores, detalhes, diferenças, regras ou leis e imposições.
Percebeu que tinha sido possível concretizar tudo, falhar e voltar a tentar, concretizar e regozijar, que não havia reais limites para o que fosse que desejasse viver.
Percebeu que o limite era ele próprio, ele personificado nos outros, todos, ele enquanto sociedade, percebeu que foram as regras e os valores da sociedade que o limitaram, que a mesma construção humana que garante o desenvolvimento impede-o, conservado.
Percebeu que tudo o que não fez foi por seguir os padrões regentes de uma sociedade, por decidir manter-se enquadrado no grandioso meridiano ad norma.
Com a clareza que acompanha a nossa verdade percebeu que não existem limites e que a sua vontade esteve sempre ali, a um passo, ao virar da esquina da plenitude da realização, tivesse não seguido a norma.

2 comentários:

  1. Não sei se concorda
    Mas há que romper com a norma

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    1. Sem dúvida, relato-lhe apenas uma reportagem que vi à alguns anos, bastantes, para dar uma ideia da pofundidade da questão.

      Um homem,pobre, bastante pobre, tinha o sonho de percorrer o mundo, a viagem de uma vida, quase que o propósito para o qual tinha nascido, imensamente pobre como era gastou uma série de anos a construir por si próprio um veiculo para esse fim, paralelamemte a sua vida desenvolveu-se em outros campos, casou-se, teve filhos, enfim criou responsabilidades.
      Dizia então este homem que estava eternamente grato à sua mulher e aos seus filhos por o deixarem partir na realização do seu sonho sem o culpar, sem lhe atribuir etiquetas, de abandono, egoismo ou outros que como sociedade prontamente atribuiriamos.
      Quantos de nós teriamos a capacidade desta mulher e filhos de deixar sair alguém em plena liberdade de realização e consciencia, sem atribuição de culpa ou critica?
      Eu não! Estou demasiadamente ligado ao meridiano da norma.

      Um abraço livre.

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