Sociedade voluntária

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domingo, 20 de novembro de 2011

O processo de desmoralização ou…

porque continuamos a precisar da autoridade!

Precisamos realmente de uma autoridade?
Precisam os indivíduos, na realidade, de um governo?
Claro que sim, “alguém” tem de ditar as regras que todos cumprimos, responderão alguns, talvez muitos! Mas é preciso perceber que chegamos a essa resposta porque fomos sujeitos a um processo lento mas eficaz de desmoralização da sociedade.
O homem é um animal de hábitos e estimulável, muito estimulável.
O processo passa por eliminar as construções morais ou seja, as características de carácter, as virtudes, os mecanismos que permitem reconhecer no outro, os mesmos direitos e necessidades que a nós próprios, requeremos nos assista.
O estímulo é simples, transfere-se o desejo interno de realização do ser humano para um objectivo externo, a necessidade de acumulação, hoje quase ninguém trabalha para se realizar, todos trabalham para acumular, possuir capacidade de aquisição, pois o objectivo último da vida não é ser, é ter o mais possível.
Para reforçar mais este facto, torna-se absolutamente imperativo que a sobrevivência esteja directamente relacionada com a capacidade de acumulação numa perspectiva individual, então fornece-se aos indivíduos uma educação estritamente profissional, para que o seu desenvolvimento se limite exclusivamente a essa área e construa um perfil competitivo que o encarrega de ver nos outros um inimigo e, em todos as circustancias, uma batalha que tem que vencer.
Está criada a condição para que o indivíduo dependente da sua acção para sobreviver num contexto onde o imperativo maior é garantir a si próprio, não tem amarras mentais a usar todos os meios disponíveis na perseguição do objectivo.
É a partir deste ponto que as pessoas perdem a capacidade de se auto-regular, disciplinar e consciencializar da intenção do acto humano e da soberania individual.
Lembro o tempo dos avós em que transacções entre pessoas eram fechadas com um compromisso de honra.
Que é feito desse ser humano o qual uma palavra o comprometia e cumpria até sobre um manto de sacrifícios, esse que tendo só uma sardinha a dividia com outro ou como alguém disse recentemente, esse que pedia desculpa.
Que é feito da honestidade, do orgulho saudável, da solidariedade, do voluntarismo, da humildade?
 Neste caminho é óbvia a continuação e aumento da necessidade e intervenção de uma autoridade, que crie regras para “todos”.
Quanto menor a qualidade do carácter, menos virtudes o individuo possuir, mais precisa de uma autoridade externa, mais dependente fica e menos livre é e com isso a presença sempre crescente de quem lhe vai ditar as regras e cobrar por isso.   

2 comentários:

  1. A questão, para mim, é a sociedade ser gerida por regras, leis, e não por pessoas. Tem de haver um poder para fazer cumprir as regras, mas as regras têm de ser criadas pelas pessoas em geral, democraticamente criadas.

    Se não existir esse poder, cada um vai começar a tratar dos seus interesses e transformar-se em predador da sociedade. Nós estamos geneticamente programados para dar prioridade ao nosso interesse pessoal. Se não existirem fiscais da Emel, a maioria das pessoas deixará em pouco tempo de pôr moeda no parquímetro. Nós somos como somos, não faço juízos de valor, mas não me iludo neste ponto: estamos geneticamente programados para darmos prioridade aos nossos interesses e não os submetemos, em geral, ao interesse colectivo a não ser obrigados.

    No passado, nos meios muito pequenos, existia uma enorme pressão social que condicionava muito os comportamentos - o aperto de mão valia porque quem o violasse estava tramado - ou seja, havia um Poder, exercido pela comunidade. Um poder muito mais forte e intrusivo do que o das nossas sociedades actuais.

    Mas estas pessoas do passado, quando livres desta pressão, logo davam aso aos seus instintos predadores.

    Gosto de ouvir as estórias que os antigos contam; e faço-lhes perguntas; e é por isso que eu sei que as coisas antigamente eram muito menos bonitas do que certas perspectivas romanticas do passado dizem.

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  2. Concordo e tenho feito notar esse ponto; regras são um mal necessário, mas diferente é serem impostas por uma elite e de tal maneira complexas (intencionalmente) que permitem o seu legal não cumprimento por uma minoria.
    Na minha opinião essa programação genética de que falas é o instinto de sobrevivência sempre latente e que se manifesta na razão exacta da dificuldade em sobreviver (não é por acaso que crimes e roubos aumentam nos tempos de escassez ou maior desigualdade).
    Penso que o ser humano sempre foi condicionado, impedido de revelar as suas melhores características ao longo dos tempos e algumas das armas utilizadas são a perpétua dependência, a constante divisão e oposição entre indivíduos pelas suas características (raça, credo, sexo, classe ou até clube de futebol, (nota como os indivíduos se tornam inimigos por um clube ou religião diferentes), tudo isto é resultado de estímulos exteriores.
    É um pouco como disse alguém; coloca 100 bebés de famílias abastadas em famílias pobres e 80% assumirão características dessa condição e 100 bebés oriundos de famílias pobres em famílias ricas e em 80% deles verás aristocratas.
    A maior parte das atitudes dos indivíduos não são na realidade características próprias mas sim consequências do meio ambiente.
    Por isso é que não somos livres, não temos a escravatura de chicote mas fazemos exactamente aquilo que querem que façamos pensando que é nossa vontade.
    Existem muitos exemplos, vou só deixar um fácil de perceber; o objectivo da fama, disseminaram a ideia de que ser famoso é o melhor do mundo e vês os concursos para descobrir cantores com filas até ao outro lado do mundo.

    Abraço livre.

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