Sociedade voluntária

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Liberdade, a ultima fronteira - 2ª parte



Existe uma distinção a fazer para se perceber o significado de liberdade, a liberdade profunda, a liberdade que brota da essência do ser humano e essa destrinça é entre individualidade e individualismo.
Individualidade é o conjunto de características que compõem e definem o ser humano, como gostos, vontades, desejos, capacidades ou vocações, na essência o conjunto de características que manifestadas em proporções variadas tornam cada ser humano uma unidade diferenciada na sua igualdade maior.
Individualismo é o modelo de uso (uma forma de utilizar) dessas características de modo egocêntrico ou seja tendo em conta só e apenas a unidade possuidora e desempenhante dessas características, o individualismo não reconhece no outro a mesma condição e como tal o mesmo direito, enquanto a individualidade vê no outro o conjunto de caracteristicas que requerem direito a manifestar-se.
Para melhor perceber o significado de liberdade é preciso perceber que este modelo, o individualismo, não é na sua totalidade uma característica inata ao ser humano, pelo contrário é na sua maioria o resultado de condições externas ao ser, é o resultado de estímulos diversos que vão desde a educação, padrões impostos, razões de identificação com os parâmetros vigentes do colectivo até à interiorização da formatação dos instrumentos exigidos à sobrevivência.
Outra questão que é preciso entender é que nenhum colectivo resulta, de forma sustentada e duradoura, de participações individuais forçadas ou impostas.
O paradoxo é precisamente o de que um colectivo é o resultado da intervenção voluntária, livre, dos indivíduos que o compõem, de outra forma, como força viva que é, o colectivo tende à desintegração, só a permutabilidade da acção livre permite a continuidade.
Nenhum individuo pertence produtivo (no sentido de contribuir com a sua melhor acção) por tempo indeterminado de forma forçada ou imposta, nem incluído numa acção com a qual não se identifique ou não retire bem-estar e realização.
Por muito paradoxal que possa parecer, o colectivo não requer algum tipo de sacrifício ou subjugação a uma entidade maior que o individuo, o colectivo resulta da melhor acção, da acção que torna cada individuo mais feliz e essa é a expressão da individualidade.   

4 comentários:

  1. Tudo certo e claro. É até um bom texto, tocando um tema raro. Dou um contributo, sem lhe contrariar a tese: quando um sistema está virado para manipular o individuo, desenvolvendo-lhe sentimentos, gostos e vocações centradas no constante apelo ao individualismo, qualquer solução colectiva será sempre recebida como uma agressão. Estamos nesse ponto.

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    1. Construiram-se catedrais enormes ao serviço do individualismo, tão grandes tão grandes que lá de cima não se vê nada.

      Abraço livre.

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  2. O Freud dividiu o aparelho psíquico em Id, Ego e Super-ego; o Id é individualista mas a construção de uma sociedade, que traz vantagens para todos, exige um comportamento a pensar mais além; esse comportamento pode ser introduzido através do Super-ego, que é o conjunto de "verdades" que vão determinar o nosso raciocínio,o pensamento do Ego.
    Como a maioria das pessoas não tem esse super-ego estabelecido e age dominada pelo Id, em vez de se apostar no desenvolvimento do super-ego seguiu-se um outro caminho - construiu-se a tal "catedral ao individualismo" e passou-se a manipular a informação para que as pessoas sejam levadas a agir em função do interesse colectivo pensando que o estão a fazer no seu interesse individual; só que esta estratégia falha e por isso estamos no ponto que os dois comentários anteriores referem muito bem.

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    1. É precisamente nesse ponto que insisto noutra abordagem, a de que não é o sistema que se adapta à condição humana manipulando-o para construir um colectivo, mas sim o sistema que impede o ser humano de atigir esse objectivo, manipulando-o de forma a não expressar e desenvolver a sua melhor acção, o super-ego.
      Uma das formas mais básicas e simples é manter constantemente activo o Id e que melhor método do que a constante necessidade de depender da arte da caça para sobreviver (modernamente falando).
      A divisão entre individuos, incentivando o antagonismo pelas diferenças em lugar da associação pelas semelhanças é outra, entre mais.

      Abraço livre.

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