Sociedade voluntária

Sociedade voluntária

segunda-feira, 26 de março de 2012

Da direita..

A grande diferença entre a esquerda e a direita começa precisamente na origem, filosoficamente a esquerda considera o homem um ser bom por natureza enquanto a direita parte do princípio que o ser humano é mau por natureza e portanto tem de ser “domesticado”, sendo que o castigo é e sempre foi uma componente dessa “domesticação”, o trabalho, como realidade anti-natura, contrário à natureza humana, imposto de forma intensiva é com certeza um castigo, portanto para a direita o trabalho liberta do mal que existe em cada ser humano, ao ser forçado a contrariar a sua natureza, através do trabalho, o homem está a expurgar a sua natureza maldosa.
A este princípio junta-se-lhe a magnifica observação de Darwin que nos diz que na natureza de que fazemos parte apenas os mais fortes sobrevivem e chegamos á doutrina em que alguns bem nascidos e superiormente mais fortes estão isentos do mal, logo do trabalho, escolhidos para usar o capital em seu lugar..

domingo, 25 de março de 2012

Do estado...

No percurso do objetivo de alcançar uma sociedade realmente livre, podemos, tendo em conta a história e o grau de desenvolvimento das civilizações, defender a existência de um estado compatibilizando-o com a determinação da sua própria extinção?
O estado como organismo agregador e manifestante das vontades e intenções dos indivíduos integrados num colectivo exige a submissão a regras teoricamente entendíveis e aceites como o bem comum ou o interesse comum, para que individualmente cada um de nós renuncie a uma parte da sua soberania em nome de uma entidade maior que supostamente irá refletir o resultado da convergência do todo, devolvendo assim ao mesmo o melhor que é possível concretizar.
Sendo que o estado somos todos nós, o estado é o conjunto de recursos ideológicos, morais, laborais, financeiros e materiais que entregamos ao serviço da sociedade como um todo e sendo que todos estes recursos precisam ser geridos, na actual fase de desenvolvimento encarregamos alguns de “nós”, alguns elementos do todo para efectivar o que conceptualmente o colectivo considera ser o bem comum, ou seja, o despender dos recursos de forma a obter uma sociedade, um colectivo o mais equilibrado e justo possível.
O que acontece é que o estado não é um organismo manifestador das vontades e desejos da sociedade, do colectivo, mas sim um organismo criador de dependências, segregações e privilégios, o estado foi progressivamente sendo sequestrado ao ponto de se tornar inimigo do próprio estado, ou seja de todos nós ao ponto de apresentar caracteristicas distopicas.
Se o estado somos todos nós, eu e tu, como pode o estado impor-nos coisas que não queremos, se o estado sou eu como posso eu fazer algo que não me autorizei a fazer, eu não me autorizei a salvar os bancos da falência, eu não me autorizei a baixar reformas já de si baixas e cortar subsídios, eu não me autorizei a comprar submarinos eu não me autorizei a desperdiçar os recursos existentes, eu não me autorizei a desmantelar a industria, as pescas, a agricultura para agora concluir que foi um erro, eu não me autorizei porque na verdade a autoridade não sou eu, alguém usa a minha pessoa para se apresentar com a minha autoridade.
As regras de regência do bem comum não são hoje entendíveis, não são o resultado das vontades do colectivo e como tal representativas do todo, e como tal o estado nunca terá a função de libertação da sociedade, pelo contrário, a sua representatividade exigirá sempre uma maior dependência das migalhas para poder distribuir bolos inteiros.   
Se a função do estado é procurar em cada momento e de acordo com as vontades do colectivo, encontrar o ponto mais próximo do equilíbrio isso significa que ao longo do tempo a função do estado é extinguir-se, a si próprio, pois da constante procura do equilíbrio resultará uma sociedade tendencialmente auto-regulada, auto-equilibrada.
A existência de um estado não é impedimento ao objectivo de uma sociedade livre, a forma de representação desse estado, sim pode ser.

sábado, 24 de março de 2012

Aos olhos de quem vê...

Aos olhos de quem vê
serei quem não sou,
aos olhos de quem vê
quer seja mau ou bom.

Aos olhos de quem vê
tenho formas e cores,
diferentes das que sinto,
as que sinto chamo dores.

Aos olhos de quem vê
são lágrimas de algodão
estas que verto
de certa forma perdão
por viver sem acerto.

Aos olhos de quem vê
tenho poemas, sonhos
e sentimentos medonhos.

Sim, tu!

Sim, é tudo acerca de ti.
É tudo acerca daquilo que és, que podes ser, daquilo que devem ou não deixar-te ser.
É tudo acerca daquilo que fazes, que podes fazer, que deves ou não fazer, daquilo que devem ou não deixar-te fazer.
É tudo acerca daquilo que queres, que podes querer, daquilo que devem deixar-te querer,
é tudo acerca daquilo que tens, do que podes ter, do que deves ter,
é tudo acerca daquilo que não tens, que não podes ter e não deves ter,
é tudo acerca daquilo que sabes, que não sabes e que não podes saber.
Sim, é tudo a “cerca” de ti.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O dia em que a representação da autoridade agrediu o seu verdadeiro governo. - Os cidadãos!

                                                         (foto: Hugo Correia/Reuters)

                                                       (foto Patrícia Melo Moreira, AFP)

domingo, 11 de março de 2012

E a seguir à superprodução?

O capitalismo trouxe-nos a perspectiva de que a supressão das necessidades é possível, a massificação do bem-estar, fundamental e que o engenho humano quando cultivado e disseminado resolve o que há para resolver, mas expôs-nos também ao excesso, ao limite desse modo de produção, conduzindo à super exploração de recursos, ao desperdício e na sua fase obituária à concentração de meios, à iniquidade e basicamente à negação dos princípios que teoricamente lhe estariam na origem como formulação de criação, transmissão e distribuição de valor e riqueza de forma sustentável capaz de responder ao percurso existencial do ser humano.
É hoje claro que não é mais possível continuar a produzir deste modo, não apenas por causas ambientais de respeito pelos ecossistemas, nem só por causa da depleção dos recursos pois exploramo-los a uma escala maior do que a natureza os consegue repor, não só porque desperdiçamos uma grande fatia desses mesmos recursos sem algum aproveitamento significativo, não só porque sabemos que é possível fazer mais e melhor mas essencialmente porque não é possível continuar com a desigualdade na distribuição dos meios essenciais à vida à dignidade e ao bem-estar dos seres humanos na vida em sociedade.
É sabido que a desigualdade na distribuição da riqueza numa sociedade é das principais causas de ruptura e de colapso, não sendo uma questão de se…mas uma questão de quando está ultrapassado o limite que impede a manutenção do status quo.
A divisão do trabalho e a retribuição por hora de trabalho foram os responsáveis por nos trazer até aqui e para que possamos continuar temos que nos livrar destes dois velhos conceitos que nos foram de utilidade mas que estão cansados.
Perguntamos, e então como podemos continuar? Como podemos distribuir igualmente a riqueza criada de forma a alcançar sociedades mais justas e mais equilibradas?
É exactamente essa a pergunta; e a seguir à superprodução?
 Voltamos ao inicio do texto, hoje é o tempo da produção fácil, nunca foi na historia da humanidade tão fácil produzir como hoje e mais ainda, é possível produzir praticamente sem intervenção humana, pelo menos massivamente e esse facto permite-nos desligar, fazer a separação entre a produção e a capacidade de sobrevivência dos indivíduos.
(Esta é provavelmente a maior questão no futuro que começa agora, a produção com o nível tecnológico que alcançou nunca mais vai ser a fonte de absorção do trabalho humano, nunca mais vai proporcionar postos de trabalho comuns e tradicionais e como tal existem duas respostas possíveis, ou se separa a sobrevivência da produção ou se eliminam humanos).
Por outro lado, eliminando o lucro, factor que até aqui impulsionou a produção massiva mas sem grandes preocupações ambientais ou de carácter humanístico, a produção seria orientada para satisfazer as necessidades e não as necessidades impulsionadas para dar resposta ao constante crescimento volumétrico e lucrativo da produção.
A seguir à superprodução vem o tempo de continuar a produzir, mas com outro paradigma, libertando o homem do trabalho servil e mercantilista, produzindo com qualidade, eficiência, respeito pelo meio ambiente e sobretudo distribuindo com justiça e igualdade o resultado da produção.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Avivar as chamas do inferno, pôr um rabo ao diabo e fazer vários consertos aos condenados


É hoje mais lúcido que nunca que a democracia representativa nunca representou, melhor, nunca representou quem devia representar porque na realidade representa, representa os que têm poder, os mais fortes conforme manda a visão Darwiniana, e se pensarmos bem é “normal” e faz sentido pois quem tem um bolo á sua disposição, um numero indeterminado de escravos ignorantes e servis e a função de distribuir as fatias, obviamente ficará com as maiores para si ou para aqueles que lhe são “queridos”.
A democracia representativa, ao contrário do que se pensa ser, a ditadura da maioria, é na realidade a ditadura da minoria pois os eleitos serão sempre gestores dos interesses dos mais fortes, independentemente da propaganda e da demagogia, na prática e de facto tudo se passa ao redor do favorecimento das classes dominantes.

 A ilusão é pressupor que os eleitos terão como função maior, observar, cuidar e servir os interesses das massas que lhes atribuíram essa responsabilidade ou melhor, esse privilégio, que o desígnio que origina a despesa pública ou seja a aplicação dos recursos financeiros confiscados ao suor e à iniciativa dos indivíduos, sob o argumento do bem comum, é depois devolvido á sociedade na criação de estruturas que irão facilitar, melhorar e suprimir as necessidades “do povo”.
A realidade é que a criação das estruturas de desenvolvimento não é um fim em si mesmo mas antes um meio de atingir um outro objectivo escondido com o rabo de fora, o de criar e alimentar uma elite poderosa, dependente do estado, do confisco do nosso suor e dinamismo para enriquecer e ganhar poder.

As massas, o povo ou como prefiro a sociedade precisa ser consertada, recuperar, talvez seja melhor o termo adquirir, a capacidade de decisão, passar para a sua voz a função de decisão e deixar para os representantes a execução em conformidade com a vontade expressa.
A democracia directa é um caminho a palmilhar para seguir em frente rumo à liberdade, à soberania civil e à responsabilidade colectiva.
Esta estória de poder atribuir as culpas aos que lá colocamos já não serve, se culpas houver que sejam nossas, e de certeza que muito mais rapidamente acabarão as desculpas e os erros servirão para aprender e fazer melhor, ao contrário de hoje em que os erros não melhoram o caminho, ao invés servem para que não encontremos outra estrada.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Danos colaterais da superprodutividade.

Sim, agora sentimos a falta de dinheiro, o trabalho inútil, o presente ameaçado e o vazio do futuro.
Agora as consequências de décadas de doutrinas erradas fazem-se sentir e espelham na e pela sociedade os seus danos colaterais.
Os adultos em idade produtiva explorados, obrigados a trabalhar demasiadas horas, não só as horas efectivas de trabalho mas também as deslocações do e para o local de trabalho e que não conseguem dar um acompanhamento parental aos seus filhos, crianças que são despejadas de manhã cedo ás portas das instituições encarregues de realizar a compensação devido ao facto dos pais estarem obrigatoriamente ausentes 10 a 12 horas por dia, compensação essa deficitária, originando uma geração auto-educada entre pares e programas de televisão.
As crianças filhas da geração superprodutiva são vítimas sem a mínima consciência que o são, mas também o são os idosos, os pós produtivos, vítimas de uma sociedade que não tem espaço nem tempo para a sua existência pois são vistos como absorções de recursos, peças sobressalentes numa máquina imparável de renovação material.
Morrem sós porque os seus familiares não têm tempo para cuidar deles, morrem sós porque a doutrina corrente não lhes dá valor, antes um empecilho ao equilíbrio orçamental apesar dos baixos rendimentos com que sobrevivem, morrem sós por que as instituições que os deviam acolher fazendo a tal compensação tornam a dignidade um luxo ou são insuficientes.
As vítimas da geração superprodutiva somos todos nós porque é certo que transitamos por todas as fases da máquina produtiva.